terça-feira, 12 de abril de 2011

A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim

Durante a semana, o Comunica buscou saber o que fazem as pessoas sentadas nos bancos do calçadão municipal de Realeza

Por Will Cândido (Ciências/UFFS-Realeza)

Ao passar pelo centro de Realeza, o que mais chama a atenção de quem vem de fora, à primeira vista, é o seu esplêndido e extenso “calçadão”. Ocupando uma grande parte do centro da cidade, o calçadão municipal é uma marca realezense.

Pela manhã

Durante as manhãs, o calçadão é repleto de idosos. Entrevistando alguns deles, o Comunica encontra o Sr. Adão Borba, 61 anos, agricultor aposentado que, de maneira simples e rápida, disse o que estava fazendo ali: “Moramos na Colônia e ficamos sentados aqui esperando o banco abrir”. Como o Sr. Adão mora longe e necessita de ônibus para chegar até a cidade, ele, na maioria das vezes, chega bem antes de o banco abrir. Esse também é o motivo de muitas outras pessoas estarem sentadas nos bancos da praça pela manhã.

                                                                                                     Mayza Lora
 Clarice Borba e seu pai, Adão Borba,
esperando o banco abrir
Ao Meio-dia

Nesse horário, o comércio local se fecha, e muitos dos funcionários e proprietários que ali trabalham vão para casa almoçar.

Durante o horário de almoço, encontramos algumas pessoas que estão descansando nos bancos. O Sr. Marcelo Kops, 39 anos, gerente comercial, conversou com o Comunica e explicou o motivo para ele e sua esposa estarem sentados ali: “como trabalho em horário comercial, este é o horário que tenho à disposição para vir ao banco. Fomos almoçar e agora estamos aqui para dar uma descansadinha antes de voltar ao trabalho”. A esposa de Marcelo, Sra. Rosane Kops, dona de casa de 35 anos, complementa a fala do marido: “o calçadão é um local agradável para se sentar, bem fresco e arborizado. O clima hoje está bom, e aqui podemos descansar depois do almoço”.

À tarde

Nem todas as pessoas que ali se sentam estão aguardando o banco se abrir ou acabaram de voltar dele. O Comunica entrevistou algumas pessoas na parte da tarde que estavam a fim de uma espécie de lazer.

“Ficar em casa fazendo o que? Brigando com a mulher? Eu não! Venho aqui e me encontro com meus companheiros de antigamente”, afirma o Sr. Maximino Andrette, 65 anos, aposentado. O Sr. Maximino relata que vai praticamente todos os dias até o calçadão, tanto no período da manhã quanto no período da tarde, quando se encontra com os seus companheiros e começa a conversar.

“Sempre nos sentamos aqui, mas já estamos quase desistindo. Não ganhamos nenhum cafezinho, ninguém serve uma cervejinha”, diz o Sr. Nalredi Maria, 75 anos, aposentado. Conta que gosta de ficar ali, “proseando com os velhos e vendo os ‘bicho bão’ que passam na rua”. As pessoas sempre lhes perguntam: e na chuva, como é que faz? “Na chuva, podiam colocar uma tenda pra agradar os velhinhos aqui!”, responde o Sr. Nalredi.

                                                                                                     Mayza Lora
 Sr. Nalredi e Sr. Maximino vendo
o que “se passa” por Realeza
 À noite
Nas noites realezenses, o calçadão também é muito freqüentado, mas, desta vez, por jovens. Em conversa com o Comunica, a universitária Ângela Roman, de 20 anos, conta o porquê de ela e seus amigos estarem por ali: “Ficamos aqui, porque não tem um bar que permaneça aberto até tarde e não nos expulse dele, pois é tradicional aqui em Realeza os bares fecharem cedo”. Inconformada, ainda diz: “Nos bancos da praça ‘era’ permitido ficarmos tocando violão, mas agora não podemos mais”.

Realeza, por ser uma cidade pequena, ainda não está adaptada à rotina de uma cidade grande, ou à rotina de uma cidade universitária: “Procuramos o calçadão para tentar fazer algo que nos tire da monotonia. Estamos buscando diversão, já que a cidade não nos oferece opções de lazer. Reunimos a galera para tomar tererê, chimarrão e tocar violão, mas, infelizmente, nos últimos tempos, nem isso mais está sendo permitido por aqui. No geral, o calçadão, é um lugar excelente para dar uma descontraída”. O acadêmico que conversou com o Comunica foi Jonathan Agnes, de 19 anos.

Na madrugada

Sim, na madrugada também há gente sentada pelo calçadão. Bruna Gehlen, 22 anos, universitária, dá um depoimento: “morei anos em frente ao calçadão, então, sentar aqui para conversar com os amigos era algo bem comum para mim. A maioria das pessoas, quando sai das festas, passa pelo calçadão para ir para casa. Acho que por isso é meio que um ponto de encontro da galera”. O Comunica perguntou o porquê de ela estar ali na madrugada: “durante a madrugada, é um horário mais tranqüilo, principalmente nos fins de semana. Gosto de ficar aqui com os amigos conversando e contando piadas”.

Sarajane Marciniak, 20 anos, universitária, explicou os motivos de estar até tarde pelo calçadão. Contou algumas histórias: “geralmente, acabamos parando aqui no calçadão durante a madrugada, logo após chegarmos de alguma festa. Aqui no calçadão, podemos sentar e comentar com os amigos o que aconteceu durante a noite”.

Foi pedido o que ela achava dos bancos, e ela afirmou: “os bancos são ótimos. Sempre utilizamos eles para sentar, tomar tererê e conversar com a galera. Algumas vezes tocamos violão durante a madrugada, mas estamos parando com isso, pois é freqüente a chegada da polícia acabando com a nossa diversão”.
                                      
                                                                                                    Will Cândido
 Da esquerda para a direita, Luciana,
 Sarajane, Kerlly, Thaís e Yuri

É vista a variedade de pessoas que costumam ficar pelo calçadão realezense, sentadas em seus bancos. É notável a variedade de idades das pessoas que o frequentam e de horários em que cada uma costuma se sentar. Muito provavelmente, os jovens que se sentam à noite não têm a menor noção dos idosos que se sentam pela manhã. Os assuntos e os motivos pelos quais estão sentados lá são completamente diferentes uns dos outros. Essa é a variedade presente no calçadão realezense.

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