quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CRÔNICA

Como diria Paola Bracho:

“Querida Patrícia, que alegria ver você aqui!” Digo alegria, pois fico muito contente em saber que gostou tanto assim de meu texto, que o leu e releu, vasculhando na mente os cheiros dos lugares em que já esteve e os em que ainda há de estar.

É com total entusiasmo que lhe escrevo, pois, assim como você, também viajei com o seu texto, naquele inimaginável mundo da solidão transposto pelos cheiros, cheiros que encontramos no meio de multidões, que vêm e que vão, que assim como eu, assim como você, são pessoas com um objetivo, um gosto em comum, um cheiro em comum... 

 
Perfumadamente,

Willian.


Não é eu, sou você

Willian Moura (Ciências/UFFS)

Como de costume, por volta das 3h22 da madrugada de sexta-feira, desci as escadas do meu apartamento rapidamente para por o lixo pra fora. O lixeiro passaria na manhã do sábado e o cheiro que invadiria a casa, se acaso esse lixo permanecesse ali por mais um dia, não era algo que se diga “que cheiro agradável”; pelo contrário: o cheiro de lixo orgânico em decomposição me assusta, me levando para partes de minha vida que prefiro esquecer.

Descendo as escadas, estava apenas de cueca com uma camiseta GG, daquelas que ganhamos em congressos e só usamos para dormir. Percebi que aquela noite estava com ventos do mês do cachorro louco, ventos do mês de Agosto; todavia, era Outubro, final de Outubro mais especificamente, e, quando eu olhei para o céu, fiquei extasiado pois, no meio de um céu estrelado, brilhava uma lua, a lua minguante ou crescente mais linda que já vi em todos os meus 19 anos de existência. Parei e permaneci a observá-la por longos 39 segundos, mas, sem apontá-la, com toda aquela história das verrugas, preferi não arriscar. Quando subia as escadas, ainda olhando para a bela lua minguante ou crescente, uma “brisa forte” me deu um arrepio. Senti o cheiro da gripe, misturado com queijo lunar.

Ao acordar no outro dia, não conseguia pensar em outra coisa, senão na criação do meu finíssimo Landlady. Por sorte, o dono da marca havia me dado a autorização. Agora do que eu precisava era de inspiração. Então, me lembrei da lua que havia vislumbrado na noite passada.

Eu precisava de uma fragrância que permitisse que as pessoas pudessem relembrar momentos acontecidos. Então, me lembrei daquelas cabines fotográficas. Perfeito, o cheiro do perfume deveria ser como aquelas fotos que tiramos em cabines fotográficas que ficam bem no meio de barulhentas estações de metrô de cidades como Bruxelas.

Com toda aquela muvuca, as pessoas podem ter um momento de privacidade dentro dessas cabines e lá acontece de tudo, de tudo mesmo. É ali que sobrevém a memorização. Aquele slogan “tire uma foto para a eternidade” é perfeito, mas, para mim, sempre parece que está faltando um algo a mais, algo do tipo, “sinta um cheiro para a eternidade”, é, por que não? As fotos tiradas em cabines caberiam certinho neste slogan, já que o cheiro que as pessoas sentem quando estão nas cabines automaticamente as remeterá a Bruxelas, à estação do metrô, aos amigos que acabara de conhecer, e tudo o que de mais marcante ficou dali. Tudo começou assim.

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