Por
José Demarchi (Medicina Veterinária/ UFFS)
Era uma vez, pais de
família que não voltaram para casa, jornalistas, escritores,
políticos, anônimos, todos insatisfeitos com a situação política
do país, formadores de opinião que já não podiam mais expressar
as suas. Muitos filhos sem pais, muitos pais sem filhos. A névoa e a
obscuridade pairou no céu brasileiro.
Há cinquenta anos
começava uma das épocas mais aterrorizantes para a população
brasileira, uma era que durou 20 anos. Dias, semanas, meses
terríveis, em que muitas pessoas foram torturadas até a morte,
tiveram seu direito de expressão oprimida, entre outros
acontecimentos lamentáveis. Quem dera estivesse aqui narrando uma
ficção, fatos vislumbrados em um cenário desolador em que
figuravam personagens produtos de minha criatividade literária,
todavia, a repressão da ditadura realmente aconteceu.
Desde a renúncia do
presidente Jânio Quadros em 1961, o Brasil vivia um clima de tensão
até ascensão ao poder do então vice-presidente João Goulart,
popularmente conhecido por Jango. Com Goulart no poder, estudantes,
organizações populares e trabalhadores ganharam espaço no cenário
politico brasileiro, preocupando dessa forma, as classes
conservadoras composta por empresários, banqueiros, Igreja Católica,
militares e a classe média.
Na época, acontecia a
Guerra Fria e diante disso os EUA e os conservadores temiam que o
Brasil se alinhasse aos interesses dos soviéticos e passasse a
seguir tendências comunistas. Os partidos de oposição a Jango,
como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social
Democrático (PSD), o acusavam de planejar um golpe esquerdista e de
figurar como o responsável pela mazelas que o Brasil enfrentava na
época.
No dia 13 de março de
1964, João Goulart realizou um grande comício na Central do Brasil
(Rio de Janeiro), onde defendeu as reformas de base e prometeu
mudanças radicais na estrutura agrária, econômica, e educacional
do país. Menos de uma semana após tal evento, os conservadores
organizaram um protesto que reuniu milhares de pessoas nas ruas de
São Paulo motivadas a verbalizarem o seu descontentamento diante das
intenções de Goulart. Tal evento ficou conhecimento como a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade.
O cenário político
era desolador e preocupante, concomitante estava a crise política
que motivava as tensões e as manifestações populares. Em 31 de
março de 1964, tropas militares de Minas Gerais e São Paulo saíram
às ruas, o confronto se anunciava. Evitando uma guerra civil, Jango
deixou o país, refugiando-se no Uruguai, assim, assumem o poder do
país os militares.
A ditadura militar no
Brasil durou até 1985. Foi marcada pelo cerceamento à liberdade de
expressão, inclusive de imprensa, censura prévia, perseguição
política, prisões arbitrárias e tortura a civis anônimos e
profissionais liberais formadores de opinião. Contudo, após muitos
movimentos sociais e o enfraquecimento do sistema, conseguiu-se
destituir o governo dos militares.
Embora o fim do regime
militar e a ascensão de um estado democrático possam ser
considerados verdadeiras conquistas do povo brasileiro, a sucessão
ao poder vem se tornando problemática de eleição a eleição,
sobretudo em razão das candidaturas insatisfatórias. Diante do
direito adquirido ao sufrágio universal, com muita luta diga-se de
passagem, a eleição de bons representantes da nação tem
representado uma tarefa demasiado árdua. Infelizmente, na atual
conjuntura, temos sido obrigados a escolher entre o menos ruim dos
candidatos.
Em linhas gerais, a
democracia nos apresenta uma lição, a de aprendermos com o
sacrifício daqueles que foram oprimidos no tempo da ditadura e a
partir do direito ao voto e da nossa relativa liberdade de expressão
consolidarmos um país decente, digno para criarmos nossos filhos.
Enfim, sai governo e entra governo e alguns
brasileiros formam uma minoria que ainda dizem: “ele rouba, mas
pelo menos fez algo em seu mandato”.
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