quarta-feira, 16 de julho de 2014

De anos cinzentos a anos dourados

Por José Demarchi (Medicina Veterinária/ UFFS)

Era uma vez, pais de família que não voltaram para casa, jornalistas, escritores, políticos, anônimos, todos insatisfeitos com a situação política do país, formadores de opinião que já não podiam mais expressar as suas. Muitos filhos sem pais, muitos pais sem filhos. A névoa e a obscuridade pairou no céu brasileiro.

Há cinquenta anos começava uma das épocas mais aterrorizantes para a população brasileira, uma era que durou 20 anos. Dias, semanas, meses terríveis, em que muitas pessoas foram torturadas até a morte, tiveram seu direito de expressão oprimida, entre outros acontecimentos lamentáveis. Quem dera estivesse aqui narrando uma ficção, fatos vislumbrados em um cenário desolador em que figuravam personagens produtos de minha criatividade literária, todavia, a repressão da ditadura realmente aconteceu.

Desde a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, o Brasil vivia um clima de tensão até ascensão ao poder do então vice-presidente João Goulart, popularmente conhecido por Jango. Com Goulart no poder, estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço no cenário politico brasileiro, preocupando dessa forma, as classes conservadoras composta por empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e a classe média.

Na época, acontecia a Guerra Fria e diante disso os EUA e os conservadores temiam que o Brasil se alinhasse aos interesses dos soviéticos e passasse a seguir tendências comunistas. Os partidos de oposição a Jango, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), o acusavam de planejar um golpe esquerdista e de figurar como o responsável pela mazelas que o Brasil enfrentava na época.


No dia 13 de março de 1964, João Goulart realizou um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defendeu as reformas de base e prometeu mudanças radicais na estrutura agrária, econômica, e educacional do país. Menos de uma semana após tal evento, os conservadores organizaram um protesto que reuniu milhares de pessoas nas ruas de São Paulo motivadas a verbalizarem o seu descontentamento diante das intenções de Goulart. Tal evento ficou conhecimento como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

O cenário político era desolador e preocupante, concomitante estava a crise política que motivava as tensões e as manifestações populares. Em 31 de março de 1964, tropas militares de Minas Gerais e São Paulo saíram às ruas, o confronto se anunciava. Evitando uma guerra civil, Jango deixou o país, refugiando-se no Uruguai, assim, assumem o poder do país os militares.

A ditadura militar no Brasil durou até 1985. Foi marcada pelo cerceamento à liberdade de expressão, inclusive de imprensa, censura prévia, perseguição política, prisões arbitrárias e tortura a civis anônimos e profissionais liberais formadores de opinião. Contudo, após muitos movimentos sociais e o enfraquecimento do sistema, conseguiu-se destituir o governo dos militares.

Embora o fim do regime militar e a ascensão de um estado democrático possam ser considerados verdadeiras conquistas do povo brasileiro, a sucessão ao poder vem se tornando problemática de eleição a eleição, sobretudo em razão das candidaturas insatisfatórias. Diante do direito adquirido ao sufrágio universal, com muita luta diga-se de passagem, a eleição de bons representantes da nação tem representado uma tarefa demasiado árdua. Infelizmente, na atual conjuntura, temos sido obrigados a escolher entre o menos ruim dos candidatos.

Em linhas gerais, a democracia nos apresenta uma lição, a de aprendermos com o sacrifício daqueles que foram oprimidos no tempo da ditadura e a partir do direito ao voto e da nossa relativa liberdade de expressão consolidarmos um país decente, digno para criarmos nossos filhos. Enfim, sai governo e entra governo e alguns brasileiros formam uma minoria que ainda dizem: “ele rouba, mas pelo menos fez algo em seu mandato”.

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