terça-feira, 28 de junho de 2011

A hora e a vez da Bossa Nova

                                         http://www.cultura.gov.br/site/2009/04/24/dia-nacional-da-bossa-nova/


Por Vanessa Pagno

O segundo encontro do projeto de extensão "História, cultura e poesia através das letras da música popular brasileira", que é coordenado pelo Prof. Dr. Sérgio Roberto Massagli, aconteceu na UFFS, no último dia 11 de junho de 2011. Neste projeto são abordados temas da cultura brasileira, através da discussão da Música Popular Brasileira (MPB), ao mesmo tempo em que se busca conhecer os diferentes contextos históricos, políticos e culturais de sua produção.

Neste segundo encontro, o tema abordado foi a Bossa Nova (BN), subgênero musical derivado do samba e muito influenciado pelo jazz, que surgiu no final da década de 1950, no Rio de Janeiro, e se tornou um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira. Seus principais colaboradores foram João Gilberto e Vinícius de Moraes.

No encontro houve a colaboração de três alunos, o bolsista do projeto, Ivan Lucas Faust, e as voluntárias Suane Caroline Locatelli e Eline Barbosa, que explicaram aos demais presentes assuntos referentes à BN. Entre esses assuntos foram destacados os movimentos políticos que aconteciam no Brasil nesse período, características da BN e as musas da Bossa Nova. Além disso, houve a exibição de um documentário "Coisa Mais Linda: Histórias e Casos da Bossa Nova", que fala principalmente de João Gilberto, que fora um dos grandes nomes da Bossa Nova.

O professor Sérgio comentou que a BN representou uma ruptura com uma música tradicional brasileira, pois se abandonou o estilo operístico, "grandiloquente", de cantar, no qual somente os cantores dotados de uma voz afinada e muito empostada eram considerados aptos. "A Bossa Nova revolucionou o conceito de canto ao mostrar que desafinados também têm um ‘coração’, ou melhor, que notas dissonantes e uma voz em meio tom também são capazes de emocionar, principalmente uma geração nova que não se identificava mais com aquele tipo de música incontida, excessivamente melodramática e, geralmente, falando de fossa, tristeza e desventuras amorosas".

O professor salienta que "se o tom da BN é baixo, o seu astral é alto", pois as letras começaram a falar do sol, do mar, da luz de Copacabana, da garota linda de Ipanema, que era o que os jovens de um novo Brasil, filhos de uma classe média ascendente e universitária, queriam escutar. A BN dá um basta, um "chega de saudade" nas letras melancólicas do Bolero e do Samba Canção. Além disso, dá um salto de qualidade ao abrir-se a influências internacionais como o Cool Jazz e o Bebop, sem se afastar da tradição do Samba. Ele ainda enfatiza: "Quem quiser conferir, ouça João Gilberto".

Em conversa ao Comunica, o professor Sérgio contou que "houve uma evolução em relação ao primeiro encontro, pois o bolsista e as voluntárias mostraram-se mais desenvoltos na exposição dos temas que pesquisaram. Além disso, houve novamente a presença daqueles que participaram do primeiro encontro". Ele acredita que "essas duas oficinas realizadas foram fundamentais para possibilitar um entendimento maior de dois momentos cruciais de nossa história e de nossa cultura musical: a origem e a consolidação do samba como expressão máxima da música nacional, na era Vargas; e a sua projeção internacional com a Bossa Nova, no período JK".

De acordo com Sérgio, as expectativas para o próximo encontro "são as melhores, pois, após seu surgimento e consolidação, a BN entra num estágio de diluição enquanto estilo musical ao mesmo tempo em que, sob sua influência, surgem outros movimentos". No próximo encontro o tema abordado será as novas vertentes pós-Bossa Nova. "Os participantes desse encontro serão estimulados a contribuírem com a letra de uma canção desse período. Serão privilegiados alguns nomes como Geraldo Vandré, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos, mas outros nomes são bem-vindos", finaliza o professor.

Em conversa ao Comunica, Daniel Vargas (acadêmico da 3ª fase do curso de Medicina Veterinária) que participou da oficina, declarou que vê esses encontros como muito proveitosos: "Graças a eles estabelecemos uma relação com a cultura musical brasileira, que é tão rica, porém esquecida nos dias de hoje, já que não são tocadas com frequência nos meios de comunicação de massa. Além disso, estes encontros proporcionam um contato direto com o que é produzido aqui no Brasil, com ótimos intérpretes, críticos, compositores, mas que infelizmente só é valorizado lá fora".

O acadêmico ainda salienta que "a forma como o tema é exposto pelo orientador do projeto e pelos alunos colaboradores acaba sendo prazerosa. Esses encontros são muito importantes, pois formamos um elo entre a história política do Brasil e, principalmente, o que fora produzido de arte naqueles períodos (neste encontro, a era dourada)". Ele finaliza comentando que seria interessante a participação de mais acadêmicos da UFFS, "já que quanto maior for o número de participantes, maior serão os saberes e culturas disseminados". 

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