sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mãos que “falam”


Libras: entendendo um pouco do universo dos surdos

Por: Jéssica Pauletti (Ciências Biológicas)


Como a comunicação acontece entre os indivíduos em nossa cidade, país ou mundo? Vários aspectos poderiam servir de exemplo, conversas (on-line/orais/escritas) atreladas à língua portuguesa (oral-auditiva). Tais formas citadas conseguem atingir todas as pessoas? Não, se considerarmos as pessoas surdas, por exemplo. Os acadêmicos da sexta fase de Ciências Naturais da UFFS tiveram, no semestre que passou, a oportunidade de conhecer a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e compreender um pouco de como ela funciona. No intuito de expandir os saberes a outras pessoas, o Comunica buscou maiores informações a respeito desse assunto.

A ideia desse texto não é se prender a questões de conteúdo do componente curricular LIBRAS, mas revelar a importância de professores em formação aprenderem minimamente esta língua. O Comunica procurou a professora Cleusa – professora de LIBRAS na UFFS/Realeza – para que ela pudesse nos falar um pouco sobre esse assunto.


Segundo ela, “A língua de sinais tem como pressuposto a legislação ora referendada; é reconhecida como um sistema linguístico, com a lei de nº 10.436, de 24 de abril de 2002 a qual aponta a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como sendo uma forma de comunicação e expressão, em que releva a questão visual e motora, demonstrando ideias, fatos, acontecimentos”. A professora salienta que a LIBRAS é “um dos principais artefatos culturais do povo surdo. Entre esses artefatos culturais, uso como exemplo o setor político (pois os surdos já estão mostrando o seu espaço, existem surdos vereadores, mestres e doutores em educação e linguística); no setor artístico, surdos atores, escritores, pintores, músicos e, no setor acadêmico, já temos muitos professores em escolas regulares e em escolas de surdos”. Cleusa destaca que a cultura do surdo está presente na tecnologia (com relógios que vibram, com sinalizadores para indicar horas, campainhas) e é um universo pouco conhecido pelos ouvintes, que necessitam se informar sobre o assunto.



Quando perguntada sobre como a UFFS encara as questões de acessibilidade para alunos surdos, ela coloca que hoje a UFFS de Realeza não tem nenhum acadêmico surdo. “Pelo que sei, não houve nenhum inscrito, mas a legislação prevê a acessibilidade para esses acadêmicos”, que têm direito a uma intérprete em sala de aula, para poderem acompanhar as aulas. Hoje, o Campus Realeza contempla em seu quadro funcional de técnico educacional uma intérprete habilitada e concursada para atender alunos surdos.


A professora Cleusa nos relatou, ainda, que toda instituição de esfera federal, estadual e municipal deve contemplar em seu quadro funcional profissionais habilitados e credenciados pelo MEC, através de órgãos competentes, para fazer a tradução e interpretação em ambientes escolares. O que legitima a profissão desse intérprete e tradutor é a lei 12.319, de 1º de setembro de 2010. Para ser um intérprete, é necessário que se faça cursos associados a esse tema, como exame do Prolibras (MEC), curso de licenciatura em Letras/LIBRAS, pós graduação em Libras, Mestrado em LIBRAS ou Educação e ainda em áreas afins.


A respeito da importância de os acadêmicos de Ciências Naturais terem tido esse contato com a Libras, a professora Cleusa acredita “que hoje os acadêmicos da universidade têm um campo de trabalho bem eclético e diferenciado. Poderão sair com uma formação a mais tendo a Libras em seu currículo. Quem quiser, poderá se aprofundar na área e tornar-se um profissional da área de libras. O mercado de trabalho está precisando de bons profissionais da libras; intérpretes e tradutores são muito requisitados em ambientes educacionais e palestras abertas a públicos (obrigatório agora pela lei da acessibilidade de nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que prevê e estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida)”.


Finalizando a entrevista, gostaríamos de mencionar a proposta de pesquisa que é desenvolvida, no mestrado, pela professora Cleusa que é: “LIBRAS na formação de educadores: Inclusão de alunos surdos nas Universidades Brasileiras”. O trabalho visa a uma pesquisa na área da surdez, tendo como foco principal o contexto histórico e gramatical da LIBRAS.


Depois do parecer da professora, torna-se importante ouvir o que os acadêmicos têm a nos falar a respeito do componente LIBRAS. Maiara Fantinelli destacou que “trabalhar com um grupo heterogêneo de indivíduos, como no caso da sala de aula, é realmente árduo e exige sensibilidade do professor para não ignorar as diferenças”.


Tais diferenças podem provocar o processo de exclusão, no caso, seria com pessoas surdas. Para Maiara o componente curricular de LIBRAS possibilitou um novo conhecimento que minimizará essa prática excludente e promoverá a integração dos alunos. Ao permitir que o aluno surdo sinta-se integrante de um grupo, o professor oportuniza o diálogo, a participação e a aproximação entre todos os sujeitos, uma vez que estes estejam abertos para um aprendizado mútuo de experiências, ideias e valores. Essa integração valoriza a história da comunidade surda sem deixar de proporcionar a aprendizagem significativa.


A aluna ainda destacou que busca sempre aperfeiçoar o aprendizado e que a Libras deveria ter maior dedicação em termos de estudo. Partindo disso, para ter uma boa formação, ela pretende fazer outros cursos/especializações no intuito da qualificação profissional, ampliando assim o conhecimento sobre a Libras e se apropriando melhor desta língua, sendo isso essencial para uma boa comunicação com pessoas surdas, além de divulgar a língua de sinais para o meio de convívio (família, amigos, trabalho), tanto de surdos ou daqueles que estão aprendendo.


Maiara finaliza pontuando: “considero essencial que, na formação inicial e continuada, todo professor mantenha contato com a língua de sinais e busque conhecer a cultura surda, aspectos estes essenciais para o ensino e a aprendizagem das crianças surdas que envolve integração, aproximação e compreensão da comunicação”.

Depois das colocações da professora Cleusa e da acadêmica Maiara, quero findar este texto, comentando a respeito da apresentação que as três turmas de acadêmicos da sexta fase de Ciências fizeram no semestre passado. Naquela ocasião, os alunos apresentaram, sob coordenação da professora Cleusa, a música “Todos os verbos” (Zélia Duncan). Além de aprender os verbos em Libras, o objetivo era que os demais acadêmicos do campus também pudessem ver um pouco desse universo fantástico, que é a língua brasileira de sinais.
Eder Damer/UFFS
Acadêmicos da sexta fase apresentando música em LIBRAS.

O acadêmico Alceny Langner, do curso de Letras, assistiu à apresentação e deu o seguinte depoimento ao Comunica: “Emocionante e fora do convencional, assim posso definir a apresentação dos acadêmicos do Curso de Ciências em sua performance utilizando libras. A imagem que pude recriar foi a de um coral que, mesmo sem emitir som, entoava uma belíssima canção digna de ser contemplada”. Os acadêmicos de Letras que na ocasião prestigiaram a apresentação estão tendo a oportunidade de cursar o componente de Libras neste semestre. 

Aos que ficaram curiosos e quiserem conferir, segue o link para poderem assistir à apresentação: <http://www.youtube.com/watch?v=tZ4m9LJtWKM>.

É claro que apenas com um semestre os acadêmicos não conseguiram desenvolver toda a desenvoltura das pessoas que são surdas ou professor/intérprete de Libras, afinal, para chegar nesse patamar, é preciso muita dedicação e outros estudos. Mas pelo panorama geral, acredita-se que muitos talentos foram encontrados e a oportunidade foi semeada. Afinal, não importa como a comunicação acontece e sim a sua importância para a relação da boa convivência entre as pessoas.

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