Libras:
entendendo um pouco do universo dos surdos
Por:
Jéssica Pauletti (Ciências Biológicas)
Como
a comunicação acontece entre os indivíduos em nossa cidade, país
ou mundo? Vários aspectos poderiam servir de exemplo, conversas
(on-line/orais/escritas) atreladas à língua portuguesa
(oral-auditiva). Tais formas citadas conseguem atingir todas as
pessoas? Não, se considerarmos as pessoas surdas, por exemplo. Os
acadêmicos da sexta fase de Ciências Naturais da UFFS tiveram, no
semestre que passou, a oportunidade de conhecer a Língua Brasileira
de Sinais (Libras) e compreender um pouco de como ela funciona. No
intuito de expandir os saberes a outras pessoas, o Comunica buscou
maiores informações a respeito desse assunto.
A
ideia desse texto não é se prender a questões de conteúdo do
componente curricular LIBRAS, mas revelar a importância de
professores em formação aprenderem minimamente esta língua. O
Comunica procurou a professora Cleusa – professora de LIBRAS na
UFFS/Realeza – para que ela pudesse nos falar um pouco sobre esse
assunto.
Segundo
ela, “A língua de sinais tem como pressuposto a legislação ora
referendada; é reconhecida como um sistema linguístico, com a lei
de nº 10.436, de 24 de abril de 2002 a qual aponta a LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais) como sendo uma forma de comunicação e
expressão, em que releva a questão visual e motora, demonstrando
ideias, fatos, acontecimentos”. A professora salienta que a LIBRAS
é “um dos principais artefatos culturais do povo surdo. Entre
esses artefatos culturais, uso como exemplo o setor político (pois
os surdos já estão mostrando o seu espaço, existem surdos
vereadores, mestres e doutores em educação e linguística); no
setor artístico, surdos atores, escritores, pintores, músicos e, no
setor acadêmico, já temos muitos professores em escolas regulares e
em escolas de surdos”. Cleusa destaca que a cultura do surdo está
presente na tecnologia (com relógios que vibram, com sinalizadores
para indicar horas, campainhas) e é um universo pouco conhecido
pelos ouvintes, que necessitam se informar sobre o assunto.
Quando
perguntada sobre como a UFFS encara as questões de acessibilidade
para alunos surdos, ela coloca que hoje a UFFS de Realeza não tem
nenhum acadêmico surdo. “Pelo que sei, não houve nenhum inscrito,
mas a legislação prevê a acessibilidade para esses acadêmicos”,
que têm direito a uma intérprete em sala de aula, para poderem
acompanhar as aulas. Hoje, o Campus Realeza contempla em seu quadro
funcional de técnico educacional uma intérprete habilitada e
concursada para atender alunos surdos.
A
professora Cleusa nos relatou, ainda, que toda instituição de
esfera federal, estadual e municipal deve contemplar em seu quadro
funcional profissionais habilitados e credenciados pelo MEC, através
de órgãos competentes, para fazer a tradução e interpretação em
ambientes escolares. O que legitima a profissão desse intérprete e
tradutor é a lei 12.319, de 1º de setembro de 2010. Para
ser um intérprete, é necessário que se faça cursos associados a
esse tema, como exame do Prolibras (MEC), curso de licenciatura em
Letras/LIBRAS, pós graduação em Libras, Mestrado em LIBRAS ou
Educação e ainda em áreas afins.
A
respeito da importância de os acadêmicos de Ciências Naturais
terem tido esse contato com a Libras, a professora Cleusa acredita
“que hoje os acadêmicos da universidade têm um campo de trabalho
bem eclético e diferenciado. Poderão sair com uma formação a mais
tendo a Libras em seu currículo. Quem quiser, poderá se aprofundar
na área e tornar-se um profissional da área de libras. O mercado de
trabalho está precisando de bons profissionais da libras;
intérpretes e tradutores são muito requisitados em ambientes
educacionais e palestras abertas a públicos (obrigatório agora pela
lei da acessibilidade de nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que
prevê e estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência
ou com mobilidade reduzida)”.
Finalizando
a entrevista, gostaríamos de mencionar a proposta de pesquisa que é
desenvolvida, no mestrado, pela professora Cleusa que é: “LIBRAS
na formação de educadores: Inclusão de alunos surdos nas
Universidades Brasileiras”. O trabalho
visa a uma pesquisa na área da surdez, tendo como foco principal o
contexto histórico e gramatical da LIBRAS.
Depois
do parecer da professora, torna-se importante ouvir o que os
acadêmicos têm a nos falar a respeito do componente LIBRAS. Maiara
Fantinelli destacou que “trabalhar com um grupo heterogêneo de
indivíduos, como no caso da sala de aula, é realmente árduo e
exige sensibilidade do professor para não ignorar as diferenças”.
Tais
diferenças podem provocar o processo de exclusão, no caso, seria
com pessoas surdas. Para Maiara o componente curricular de LIBRAS
possibilitou um novo conhecimento que minimizará essa prática
excludente e promoverá a integração dos alunos. Ao permitir que o
aluno surdo sinta-se integrante de um grupo, o professor oportuniza o
diálogo, a participação e a aproximação entre todos os sujeitos,
uma vez que estes estejam abertos para um aprendizado mútuo de
experiências, ideias e valores. Essa integração valoriza a
história da comunidade surda sem deixar de proporcionar a
aprendizagem significativa.
A
aluna ainda destacou que busca sempre aperfeiçoar o aprendizado e
que a Libras deveria ter maior dedicação em termos de estudo.
Partindo disso, para ter uma boa formação, ela pretende fazer
outros cursos/especializações no intuito da qualificação
profissional, ampliando assim o conhecimento sobre a Libras e se
apropriando melhor desta língua, sendo isso essencial para uma boa
comunicação com pessoas surdas, além de divulgar a língua de
sinais para o meio de convívio (família, amigos, trabalho), tanto
de surdos ou daqueles que estão aprendendo.
Maiara
finaliza pontuando: “considero essencial que, na formação inicial
e continuada, todo professor mantenha contato com a língua de sinais
e busque conhecer a cultura surda, aspectos estes essenciais para o
ensino e a aprendizagem das crianças surdas que envolve integração,
aproximação e compreensão da comunicação”.
Depois
das colocações da professora Cleusa e da acadêmica Maiara, quero
findar este texto, comentando a respeito da apresentação que as
três turmas de acadêmicos da sexta fase de Ciências fizeram no
semestre passado. Naquela ocasião, os alunos apresentaram, sob
coordenação da professora Cleusa, a música “Todos os verbos”
(Zélia Duncan). Além de aprender os verbos em Libras, o objetivo
era que os demais acadêmicos do campus também pudessem ver um pouco
desse universo fantástico, que é a língua brasileira de sinais.
Eder Damer/UFFS
Acadêmicos da sexta fase apresentando música em LIBRAS. |
O
acadêmico Alceny Langner, do curso de Letras, assistiu à
apresentação e deu o seguinte depoimento ao Comunica: “Emocionante
e fora do convencional, assim posso definir a apresentação dos
acadêmicos do Curso de Ciências em sua performance utilizando
libras. A imagem que pude recriar foi a de um coral que, mesmo sem
emitir som, entoava uma belíssima canção digna de ser
contemplada”. Os acadêmicos de Letras que na ocasião prestigiaram
a apresentação estão tendo a oportunidade de cursar o componente
de Libras neste semestre.
Aos
que ficaram curiosos e quiserem conferir, segue o link para poderem
assistir à apresentação:
<http://www.youtube.com/watch?v=tZ4m9LJtWKM>.
É
claro que apenas com um semestre os acadêmicos não conseguiram
desenvolver toda a desenvoltura das pessoas que são surdas ou
professor/intérprete de Libras, afinal, para chegar nesse patamar, é
preciso muita dedicação e outros estudos. Mas pelo panorama geral,
acredita-se que muitos talentos foram encontrados e a oportunidade
foi semeada. Afinal, não importa como a comunicação acontece e sim
a sua importância para a relação da boa convivência entre as
pessoas.
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