terça-feira, 3 de maio de 2011

Partilhas com teu irmão as sementes da vida

A intenção das “Festas das Sementes” é resgatar e preservar as sementes da agricultura tradicional

CADERNOS ASSESOAR. Sudoeste do Paraná:
 Associação de Estudos, Orientação e Assistência
 Rural, n. 7, maio de 2009. Disponível no site
 http://www.assesoar.org.br/
Por Jéssica Pauletti

Este ano está prevista a realização de mais uma edição da “Festa das Sementes” no sudoeste paranaense, região que abrange 42 municípios. Organizada pelo Fórum Regional das Entidades da Agricultura Familiar, a festa tem como objetivo principal resgatar e preservar as sementes tradicionais das culturas agrícolas. Associados com a festa em algumas edições, ocorreram também os “Encontros Regionais de Agroecologia”.

Para que os acadêmicos e comunidade geral saibam sobre o evento, o Comunica realizou um resgate histórico das edições anteriores, salientando os locais, os temas envolvidos, a oitava festa e a importância desse evento continuar existindo.

Edições anteriores

As “Festas das Sementes” no Sudoeste do Paraná foram motivadas pelas “Festas do Milho Crioulo”, cuja primeira edição estadual aconteceu em maio de 2000 e a nacional em abril de 2002, no Município de Anchieta, Região Oeste do Estado de Santa Catarina. “Os Encontros Regionais de Agroecologia” do Sudoeste iniciaram por meio dos encontros da Rede Ecovida e da Articulação Nacional de Agroecologia, bem como da Jornada Paranaense de Agroecologia.

A primeira Festa das Sementes e o primeiro Encontro Regional da Agroecologia ocorreram no dia 15 de outubro de 2004, em Francisco Beltrão, com o tema “Garantir a Reprodução da Vida”. A segunda festa foi realizada no dia 11 de agosto de 2005, também em Francisco Beltrão, com a temática: “Pela liberdade das sementes: sem monopólios, sem monoculturas, sem agrotóxicos, sem transgênicos”.

A terceira festa e o segundo encontro aconteceram no dia 11 de agosto de 2006, na comunidade do Km 15, no Município de Marmeleiro, com o tema “Semente: autonomia x dependência”. Na oportunidade, foi realizado o lançamento do “Programa de Melhoramento Genético de Galinhas Caipiras”. A quarta festa foi realizada junto com a “22ª Romaria da Terra do Paraná” em Francisco Beltrão, no dia 20 de agosto de 2007, em comemoração aos 50 anos da “Revolta dos Posseiros do Sudoeste”, havendo a reflexão e a partilha das sementes.

A quinta festa e o terceiro encontro foram realizados no dia 31 de julho de 2008 em Ampére, o tema foi “Semente na mão, alimento pra nação”, com destaque para as sementes de hortaliças, por serem a base da alimentação das famílias agricultoras. A sexta festa e o quarto encontro aconteceram em Francisco Beltrão, no ano de 2009. E a sétima festa ocorreu ano passado, na cidade de Dois Vizinhos no dia 28 de julho, o lema era: “Proteger a semente é proteger a vida. Sua escolha faz a diferença!”.

Oitava festa
 
Em entrevista ao Comunica, o coordenador administrativo do Campus Realeza, Jaci Poli, afirma que já se iniciaram os preparativos para a oitava edição. Ele explicou também que o primeiro passo foi dado quando realizou-se em Realeza, no dia 11 de abril, uma reunião na qual constituiu-se a comissão organizadora local, ficando as seguintes pessoas na equipe: Jaci Poli -UFFS; Danieli Zanelatto - Diretório Acadêmico; Maria Luiza Netto - Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Realeza (STR); Jane Torres – Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Intenção Solidária (CRESOL) e Sistema de Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar com Interação Solidária (SISCLAF); Janete Rottava – Sistema de Cooperativas da Agricultura Familiar Integradas (COOPAFI); Jaime Taube (Canjica) – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER); e Maicon Dal Molin – Secretaria de Agricultura de Realeza.

No dia 12 de abril, em Francisco Beltrão, foi constituída a comissão regional, sendo que o coordenador Jaci Poli e a presidente do sindicato Maria Luiza Netto fazem parte desse grupo de apoio ao evento. A próxima reunião acontecerá em Realeza, no dia 05 de maio, quando a equipe continuará a se organizar e mobilizar-se. O coordenador Jaci Poli destaca que uma das intenções da oitava edição é cadastrar os agricultores que compartilham as sementes para a produção. O evento está previsto para acontecer no Município de Realeza no dia 03 de agosto de 2011.

A acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências, Dalila Gonçalves, também falou ao Comunica, sobre a festa das sementes. Ela teve a oportunidade de estar presente na sétima edição em Dois Vizinhos, e acredita que “mesmo os agricultores possuindo a chance de participarem da festa e aprenderem mais, muitas famílias do campo não têm essa visão de cultivar as sementes crioulas”. A acadêmica ainda comenta que com a modificação que está ocorrendo nas sementes industrializadas, a festa serve como resgate das sementes sem transgênicos e ela espera que na oitava edição possam acontecer vários debates acerca desse assunto e que inúmeros agricultores possam participar do evento.

Mais que uma festa, uma cultura
 
O Comunica também entrevistou o Diretor da UFFS-Campus Realeza e Doutor em Ciências do Solo, João Alfredo Braida, que comentou sobre temas que envolvem essa festa, como a inserção dos transgênicos e as sementes padronizadas no campo, bem como a importância que a festa proporciona aos agricultores que ainda lutam para sobreviver em suas propriedades e o quanto é essencial a UFFS estar envolvida num acontecimento desses.

Primeiramente, João Braida aponta dois aspectos na questão dos transgênicos, um deles é a relação perigosa que existe entre os transgênicos com os seres humanos e até mesmo com animais, e o outro ponto que não se tem claro é o quanto essas sementes transgênicas afetam a biodiversidade. Na questão das sementes padronizadas, ele acredita que elas também possuem aspecto negativo já que interferem sobre as variedades tradicionais cultivadas pelos agricultores. Tanto as sementes transgênicas quanto as padronizadas também implicam no sistema econômico do agricultor, pois, segundo João Braida, “as sementes não podem ser produzidas na propriedade, assim os agricultores ficam dependendo das empresas que as possuem”.

A respeito da exploração do capital de alimentos, ou seja alimentos industrializados, que está ocorrendo no contexto atual, João Braida enfatiza três pontos. O primeiro é a perda de autonomia das famílias do campo, os pequenos agricultores. O segundo apontamento é a necessidade que os alimentos industrializados possuem em relação a inserção de aditivos (conservantes) no produto que pode causar prejuízos à saúde. E terceiro ponto está no aspecto cultural, sobre o qual Braida afirma que “alimento é cultura, e no momento que há a padronização de alimento há perca da diversidade cultural”.

No entendimento do diretor Braida, para os agricultores a festa é um momento de celebração, na qual essas famílias têm a oportunidade de apresentar sua riqueza em termos de sementes que podem ser grãos, hortaliças, mudas de florestais e plantas medicinais, raízes, tubérculos, frutas, ovos, animais. Ele lembra que existe também a troca de experiência sobre as culturas, o que permite que se mantenha a diversidade das variedades cultivadas pelos agricultores.

Quando perguntado sobre o envolvimento da universidade com a realização da oitava edição, Braida destaca que desde o princípio uma das preocupações da UFFS é estar inserida no desenvolvimento regional, colaborando o quanto for possível. Outro ponto que ele levanta é que a UFFS tem um curso de Agroecologia, no Campus Laranjeiras, e esse grupo já manifestou interesse de estar realizando estudos sobre as sementes crioulas e ainda lembra que promover a festa no Campus da UFFS é uma oportunidade a mais de divulgar a universidade para os visitantes.

Finalizando a entrevista, Braida falou sobre suas expectativas em torno da oitava edição. Ele espera que o evento possa reunir um grande público de agricultores e pessoas de interesse nesse assunto, e que os debates da festa possam sistematizar o conhecimento existente sobre essas sementes, sendo isso lucrativo tanto para os agricultores quanto para os acadêmicos.

Curiosidade sobre sementes

Na Noruega, uma caverna serve como “cofre” para preservar as sementes de todo o mundo; custou cerca de 10 milhões de dólares e armazena 268 mil amostras diferentes; parceria do governo Norueguês e Organização das Nações Unidas (ONU) e tem capacidade de abrigar 4,5 bilhões de amostras.

Para mais informações sobre esta curiosidade, visite esses endereços eletrônicos: http://noticias.terra.com.br/ e http://www.misteriosdahumanidade.com/

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