quarta-feira, 8 de junho de 2011

Polêmica envolve livros didáticos de língua portuguesa

Aprovação de livro didático pelo MEC gera discussões sobre seus métodos de ensino gramatical

 http://leituraseobservacoes.blogspot.com/2011/01/na-companhia-dos-livros.html
Por Charline Barbosa

O livro didático Por uma vida melhor, escrito pelas professoras de língua portuguesa Heloísa Ramos e Mirella Cleto e pelo professor Cláudio Bazzoni, foi aprovado pelo Ministério da Educação - MEC – e distribuído a 4.236 escolas brasileiras para ser usado com alunos do Ensino para Jovens e Adultos - EJA.

A aprovação do livro gerou divergências de opiniões entre linguistas e jornalistas acerca do conteúdo e objetivo do livro, pois ele comporta frases como “nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe”.

Muitas foram as opiniões levantadas a partir de então. Alguns se colocam a favor do que foi proposto no livro, entendendo a proposta pedagógica da autora, enquanto outros crucificam a forma abordada por ela.

Para falar sobre o assunto, ampla pesquisa foi realizada, através da leitura de textos de linguistas e de jornalistas, bem como da conversa com especialistas sobre o tema.

Em entrevista ao ‘notícias UNIVESP TV’, José Luiz Fiorin, do departamento de Linguística FFLCH – USP, disse que “é muito mais eficiente dar ao aluno uma compreensão da língua que ele fala e, a partir daí, nós começarmos a ensinar uma forma culta. Assim, o aluno percebe que aquela língua ensinada na escola não é algo dissociável da sua língua. É outra forma de falar e a forma utilizada obrigatoriamente em determinadas esferas de circulação de texto”.

Também em entrevista ao ‘notícias UNIVESP TV’, Ataliba Castilho, linguista brasileiro, diz que “todos têm uma gramática, uma estruturação das palavras na sua articulação. É impossível falar se você não tem uma gramática”, e defende a autora do livro dizendo: “a escola não quer excluir o aluno, por isso essa estratégia que a autora adotou”.

A partir daí, percebe-se a verdadeira condição a qual a autora se propôs seguir, que é mostrar ao aluno a forma por ele falada e as diferentes variações da língua que existem no Brasil, sendo que todas pertencem ao mesmo idioma, o português. Assim, se o aluno compreender o porquê de sua fala ser de determinado modo e sobre a importância que a forma culta da língua traz, terá mais facilidade para entendê-la, adquirindo-a com mais possibilidade de adaptação.

Nas diferentes regiões do Brasil, encontramos formas diferentes de fazer referência às coisas do mundo. Em cada região, em cada grupo, em todo e qualquer lugar, encontramos pessoas com um ditado, uma gíria, uma maneira de falar diferentemente da nossa, mas nem por isso essas pessoas estarão falando de forma incorreta ou incompreensível. Torna-se incorreto quando cometemos preconceito linguístico, que é uma atitude de intolerância contra determinadas variedades da língua, sendo encarado como normal. Muitos acreditam que, ao falar de forma desigual àquela proposta pela norma culta, falar-se-á, então, de forma errada.

A forma culta deve ser ensinada e é ensinada nas escolas, pois, além da facilidade que ela traz para a comunicação das pessoas, é tomada como língua universal. Ao mesmo tempo em que se aprende a falar e a escrever com a norma culta, tornamo-nos preparados para conseguirmos esclarecer melhor os fatos sobre determinado assunto, capazes de nos confrontarmos com dificuldades e oportunidades encontradas em nosso cotidiano.

Falamos de forma compreensível a todo momento, mas nem por isso falamos apenas a forma culta. Em nosso trabalho, nossa forma de comunicação é diferente de quando estamos no bar com os amigos, por exemplo. Portanto, falar bem significa ter a língua adequada para cada uma das situações em que nos encontramos e não simplesmente seguir a norma culta.

O que afirma a autora Heloísa em entrevista ao site Último Segundo é que “não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação. Só que esse domínio não se dá do dia para a noite, então a escola tem que ter currículo que ensine de forma gradual. A intenção da obra é deixar o aluno acostumado com linguagem popular à vontade e não 'ensinar errado'”. E ainda diz que “nossa coleção é séria, temos formação sólida e não estamos brincando. Não há irresponsabilidade da nossa parte”.

Em contrapartida, opiniões contrárias dizem que “a escola serve para ensinar aquilo que não se aprende em casa: a linguagem oficial, a linguagem culta, que ajuda a moldar um país como nação. Tem cabimento ensinar gíria no colégio? Ensinar o tiopês? Seria nivelar por baixo e classificar os brasileiros como povo de segunda classe, incapaz de aprender as lições da escola”. Esse comentário foi retirado do leitor Hermes, do site colunistas.ig.com.br, comentando sobre o texto “livro usado pelo MEC ensina aluno a falar errado”, nele publicado.

O linguista e filósofo americano Noam Chomsky diz que as línguas naturais apresentam padrões que não poderiam ser aprendidos apenas por exemplos positivos, isto é, pelas sentenças "corretas" às quais as crianças são expostas. Para adquirir o domínio sobre o idioma, elas teriam também de ser apresentadas a contraexemplos, ou seja, a frases sem sentido gramatical, o que raramente ocorre. Isso pode ser um argumento a favor do livro, pois mostra que o objetivo do livro é a aprendizagem da gramática, usando como ponto de partida as variações linguísticas.

Um ponto importantíssimo subentendido no livro é o preconceito linguístico. Sabe-se que toda forma de expressão é uma forma social e, segundo Glauco Cortez, na coluna 'Educação Política' do site glaucocortez.com, “é muito mais interessante e enriquecedor mostrar as diferentes formas da língua do que fazer de conta que elas não existem”.
O texto cita basicamente a opinião dos linguistas, pois é o que ocorre nos meios de comunicação, além de serem eles que apontam os princípios gramaticais comuns a todos os idiomas.

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