Por: Aline Holdefer
(Letras: Português/Espanhol)
“Quando eu era criança, era feliz e não sabia. Ai que saudade
daquele tempo!” Quem de nós adultos nunca mencionou essas frases?
Quem nunca revirou o baú das lembranças em busca de recordações
de momentos bons que marcaram a fase inicial de nossas vidas? E de
repente bate uma saudade imensa de um tempo que já não volta
mais...
Às vezes, do nada, me encontro mergulhada em minhas lembranças, a
contemplar os inúmeros momentos, as brincadeiras, as artes de
criança. Para alguns, esse é um tempo de angustia, que não vale a
pena lembrar. Nem todo mundo teve uma infância feliz. Quem dera se
todos tivessem!
Adorava quando meu tio, irmão de minha mãe, e sua esposa, que moram
em São Paulo, vinham passear nas férias por aqui. Era uma alegria
imensa, pois eu sabia que em todos os dias, enquanto eles estivessem
por aqui, seria feito algum passeio, seja na praia ou em alguma festa
pelas redondezas; até mesmo passear para ver alguns parentes os
quais poucas vezes costumávamos visitar.
Com frequência, nos finais de semana, ia posar na casa de uma prima,
ou ela vinha posar na minha casa. Aprontávamos tanto! O que mais
fazíamos era quebrar os ovos das galinhas. Minha mãe e minha tia
ficavam furiosas, pois às vezes queriam fazer algum bolo ou outro
lanche e nunca tinha ovo. Também brincávamos de bicicleta,
lembro-me de uma bicicleta cor de rosa e grande. Subíamos até uma
altura da estrada, soltávamos os cabelos e descíamos, as duas
juntas, repetindo isso diversas vezes. Ficávamos brincando até
tarde. Quando começava a escurecer e ainda estávamos brincando,
minha mãe sempre nos chamava para entrar para ir tomar banho. Como
sempre, acabávamos demorando, aí ela falava que havia um bandido
muito perigoso que estava solto. Não dava outra, depois dessas
palavras, íamos direto para casa.
Quem nunca dormiu no sofá e quando acordou no outro dia estava na
cama? Quem nunca colocou um dente embaixo do travesseiro para ver se
a fada madrinha vinha buscar em troca de uma moeda? Coisas tão
simples e fantásticas que nossos pais faziam por nós, com todo amor
e carinho. Sem esquecer das idas à casa da vó. Que alegria receber
tantos mimos e doces. As férias do final do ano era o evento mais
esperado, afinal, era tempo de passar uma temporada com a vó. Toda
vez que ia lá, sempre pedia a ela para fazer sopa, pois minha vó
fazia uma sopa tão deliciosa que nem a sopa feita por minha mãe
ficava tão boa daquele jeito.
E quando a família inteira se reunia, era uma alegria só. A
primaiada se reunia e aprontava suas travessuras, deixando os pais de
orelha em pé. E volta e meia saía uma briguinha, coisa normal que
sempre acontecia. Mas o importante era que no fim tudo ficava bem e
voltávamos a brincar.
Nunca esqueço de uma certa brincadeira que inventamos, eu, minha
prima e uma amiga, de jogar pedra umas nas outras. E adivinha quem
foi acertado? O carro do meu pai. Para minha sorte, não fui a autora
da pedrada, senão estaria numa fria.
Enfim, são tantas recordações, tantos sonhos feitos naquele tempo,
alguns dos quais já se tornaram realidade, outros estão em
andamento. Com o passar dos anos, as responsabilidades aumentam e a
vida deixa de ser feita só de brincadeiras. Chega uma hora em que
você deve seguir um caminho, optar por uma escolha, a qual pode não
ser tão simples quanto parece. A partir de então, você percebe que
nem tudo são flores, que existem muitos espinhos que podem te
machucar. Mas o mais importante é ter saudade e orgulho da criança
que fomos. Uma pena que o mundo está passando por constantes
transformações e muitas crianças estão deixando escapar essa fase
tão fantástica, sem aproveitar o tempo da mais pura felicidade.
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