Comunica recebe Professor Ms.
Júlio Murilo Trevas, que fala sobre os projetos de Ensino, Pesquisa,
Extensão e Cultura que desenvolve na universidade
Por Vanessa Pagno
(Química/ UFFS)
Arquivo pessoal
Professor Júlio Trevas, durante apresentação do grupo Intervalo Musical. |
Nesta
edição, o Comunica recebeu o professor Ms. Júlio Murilo Trevas,
docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus
Realeza – Paraná. Mais conhecido como Trevas, é coordenador e/ou
colaborador de vários projetos da universidade, ligados ao Ensino, à
Pesquisa, à Extensão e à Cultura. Em conversa com o Comunica, o
professor esclareceu algumas questões referentes a estes projetos e
atividades que desenvolve na universidade.
Comunica:
Há quanto tempo você atua na UFFS?
Júlio
Murilo Trevas: Na UFFS, eu fui
um dos primeiros, em fevereiro de 2010, eu e o Antônio Miskyu fomos
os primeiros a chegar.
Comunica:
Onde atuava antes da UFFS?
Júlio
Murilo Trevas: Atuei 10 anos na
Universidade Estadual do Centro Oeste
(Unicentro), era
também professor lá, concursado, e estava alocado no Departamento
de Química, porque lá é uma universidade que tem estrutura de
Departamento.
Comunica:
Onde fez sua graduação e mestrado?
Júlio
Murilo Trevas: Fiz minha
graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em
casa. Meu mestrado fiz na Unicamp, em Campinas, comecei lá também
meu doutorado, na área de Química, mas não terminei.
Comunica: Em
quais áreas você atua aqui na UFFS?
Júlio
Murilo Trevas: Aqui na
universidade, de certa forma, carrego um pouco da experiência
adquirida nos 10 anos anteriores. Nas disciplinas de Química, de um
modo geral, então: Química Geral; Físico-Química; Quântica.
Posso também, em caso de necessidade, dar apoio numa aula de
Analítica, numa Orgânica, pois já ministrei este componente. Aqui,
já atuei em disciplinas de Informática, Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs). No curso de Ciências, trabalhei com
Necessidades Educacionais Específicas, Educação e Diversidade e
Astronomia também, mas, o foco principal, são as disciplinas de
Química. Auxilio hoje nos estágios. Nas linhas de Pesquisa hoje
foco mais na Educação, principalmente no Ensino de Ciências.
Comunica:
Porque você escolheu a UFFS? Quais eram suas expectativas quanto à
universidade?
Júlio
Murilo Trevas: Bom, eu estava
na Unicentro, e já estava um pouco incomodado com o curso de
bacharelado, principalmente onde a licenciatura não é valorizada, e
quando vi a proposta da UFFS, uma universidade que, a princípio,
buscaria romper com uma série de questões que não só me
incomodavam, mas à outras pessoas, eu me interessei bastante! A
perspectiva da universidade de valorizar bastante a extensão, isso
me chamou muita atenção e, em especial, o curso de Licenciatura em
Ciências. Então, na verdade, o que me trouxe para Realeza foi o
curso de Ciências, porque pela vaga de Química, eu poderia
trabalhar em qualquer um dos Campi. No entanto, o que realmente me
interessava era o curso de Ciências, porque, há muito tempo, eu
buscava uma proposta em que não houvesse uma fragmentação entre
as áreas.
Comunica:
No momento em que o curso de
Ciências foi fragmentado, suas expectativas quanto à universidade
mudaram?
Júlio
Murilo Trevas: Não, eu
continuo com as expectativas, principalmente porque eu vejo aqui
(isso eu não vi em outro local) que nós conseguimos congregar um
grupo de professores que é realmente preocupado com a educação, e
que está conseguindo trabalhar de forma muito interdisciplinar. Isso
tem me animado bastante, então, eu vejo sim ainda perspectiva de que
a gente consiga fazer um trabalho que venha a ser, inclusive,
referência, em termos de não eliminar, mas, pelo menos, minimizar
essas barreiras que acabam se impondo entre as áreas, da falta de
diálogo entre as áreas, sendo que, na verdade, não tem como a
gente fazer um trabalho sem que haja interação, um diálogo, um
trabalho cooperativo, então, a perspectiva, ainda assim, me mantem
muito animado. Eu vim para cá pelo projeto da universidade, enquanto
eu tiver certeza de desenvolvermos um projeto realmente diferenciado,
e que a gente consiga caminhar para minimizar essas barreiras entre
áreas, que a gente vá consolidando um grupo pensando em educação,
não penso em sair da universidade.
Comunica:
Quais projetos de extensão já desenvolveu e quais ainda desenvolve
na universidade?
Júlio
Murilo Trevas: O primeiro
projeto foi o de “atividades demonstrativas e interativas como
apoio à licenciatura e Educação Básica”, era algo que eu vinha
já desenvolvendo na Unicentro e, naturalmente, como vim de lá,
trouxe um pouco dessa minha bagagem. Quando começamos, então, a
universidade ainda não tinha toda essa estrutura e foi uma forma de
começar, inclusive, a mostrar para os estudantes da licenciatura as
perspectivas de se desenvolver atividades que não fossem tão
dependentes de espaço físico especializado como um laboratório.
Fico feliz porque hoje vejo vários professores que, de uma forma ou
de outra, por projetos como o PIBID, também vêm desenvolvendo esse
trabalho. Depois desse projeto, surgiu o “projeto de extensão de
capoeira”, a princípio foi com o professor Emerson Martins e agora
eu estou coordenando, o Emerson continua, mas como colaborador. A
ideia desse projeto não é trabalhar a capoeira de forma esportiva,
mas sim no aspecto cultural, porque a capoeira é patrimônio
cultural e material, está registrada no IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Então, é importante
para essa região, Realeza, particularmente, que a gente consiga
introduzir um elemento cultural e cultural do Brasil, para que as
pessoas conheçam, para que crianças e adultos tenham a oportunidade
de se envolver com a atividade, porque a capoeira é riquíssima, do
ponto de vista de trabalhar não só o aspecto da saúde, mas também
nutricidade, música, dança, (…), então, é algo muito completo,
muito especial, conseguir integrar diferentes aspectos numa mesma
atividade.
Temos
também o PROPEIF, que é o “Escola intercultural da fronteira”.
Eu fui convidado a participar deste projeto pela professora Ms. Ana
Carolina Teixeira Pinto, estou me envolvendo bastante, estou muito
empolgado com essa oportunidade de trabalhar não só com as escolas
da fronteira, mas também com os professores da Argentina, tem sido
uma experiência fantástica, porque o contato com uma outra cultura,
outra língua, outra estrutura educativa, tem sido algo muito
enriquecedor. Temos também o “intervalo musical”, que já vejo
como hobby.
É um projeto, então, obviamente, temos os bolsistas, os
voluntários, temos que cumprir carga horária, questão de
relatórios, mas este projeto é para se divertir, fazer algo que a
gente gosta, onde a gente relaxa, descontrai, trazendo também
cultura para a comunidade acadêmica e externa.
Sou também colaborador do “PIBID subprojeto de Química”. Também
estou colaborando no grupo de “Pesquisa na formação de
professores”. Ingressei, recentemente, num projeto
interinstitucional, que busca desenvolver pesquisas na área de
biotecnologia para substituição no uso de biocidas para agentes
naturais, mas a minha função neste projeto vai ser desenvolver
material didático voltado para a educação.
Comunica:
Quais atividades são desenvolvidas em cada um destes projetos?
Possuem bolsistas e/ ou voluntários? Qual a importância destes
projetos para estes participantes?
Júlio
Murilo Trevas: Qualquer um dos
projetos, seja de ensino ou de extensão, é importante para que os
estudantes percebam que a sua formação superior não está e não
deve estar restrita à sala de aula. A formação deve acontecer
também nestes ambientes, nestas atividades extra sala de aula.
Porque essas atividades vão proporcionar conteúdos que não são os
conteúdos específicos, mas são conteúdos, portanto, para a
formação humana, cidadã e profissional, em que componente nenhum é
capaz de fornecer de forma tão sólida, por isso, para eles é
importante que participem, quer seja como bolsista, quer seja como
voluntário. Isso é importante, e é por isso que estamos numa
universidade e não numa faculdade. Temos bolsistas e voluntários
nos projetos, então: o PIBID (subprojeto Química) tem bolsistas e
tem voluntários; o intervalo musical tem bolsistas, não tem
voluntários; o projeto de capoeira tem bolsistas e, por enquanto,
não tem voluntários; e o PROPEIF é um programa que funciona a
partir de verba de uma ação chamada rubrica 20RJ, por essa rubrica
não pode ser, então, concedida bolsa para alunos de graduação.
Comunica:
Estes projetos envolvem outras instituições ou apenas a
universidade?
Júlio
Murilo Trevas: Estamos
iniciando uma maior interação com a comunidade, já fizemos algumas
apresentações, mas vinculadas a algumas atividades da própria
universidade, ou uma semana acadêmica, algum evento, mas a partir
deste semestre estamos começando a ampliar. Participamos
recentemente, por exemplo, do “outubro rosa”, que é um evento
que a cidade promoveu. Neste caso, participamos com o grupo “acordes
vocais”. Esta atividade foi realizada no dia 22 de outubro, na
praça da cidade. Cantamos algumas músicas que tinham a ver mesmo
com o evento que é de valorização da mulher.
Comunica:
Como você vê essa interação entre docentes e discentes promovida
nos projetos que você desenvolve?
Júlio
Murilo Trevas: Acredito que
nestes projetos nós temos, como docentes e, no caso, como
educadores, a oportunidade de conseguir discutir um pouco mais e
contribuir mais com a formação destes estudantes. A sala de aula é
um espaço e tempo limitados, só tenho naquele espaço aquele
intervalo de tempo para interagir com os estudantes e, aí, não
posso ampliar para uma conversa, uma aproximação, dar aos
estudantes a oportunidade de expor ideias, de tirar dúvidas que não
sejam, necessariamente, daquele componente. Nos projetos,
conseguimos, então, complementar esses momentos de interação e
contribuir bastante com a formação destes estudantes. O ideal é
que todos os estudantes tivessem a oportunidade de, durante um curso
de graduação, participar destes projetos, mas, infelizmente, isso
não é possível, pois muitos não têm condições de abdicar do
trabalho para realizar uma atividade e sobreviver com uma bolsa. Até
porque a bolsa é provisória, às vezes têm família, então, não
podem arriscar sua provisoriedade, sem perspectiva de, depois, poder
retornar a algo mais concreto, e essa é a realidade que temos aqui.
Comunica:
Para você, como estes projetos influenciam para seu crescimento
pessoal e profissional, como professor e orientador?
Júlio
Murilo Trevas: Toda vez que
você interage com alguém, você aprende alguma coisa, esse alguém
te deixa uma marca, então, tendo um projeto, que desenvolve,
colabora e está interagindo com outros docentes e com estudantes,
você começa a ampliar muito mais sua visão de mundo, sua percepção
da própria humanidade, no sentido de conseguir enxergar as pessoas
melhor, de ser mais paciente, tolerante, mais compreensivo. Do lado
profissional, os projetos sempre impõem desafios e a gente se vê em
situações de resolver problemas que antes não tínhamos imaginado
enfrentar, aprendemos algo novo, então, em termos profissionais e
pessoais, o crescimento é enorme, tenho até dúvidas se quem cresce
mais é o docente ou se é o estudante.
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