quarta-feira, 12 de novembro de 2014

“A formação superior também deve acontecer nas atividades extra sala de aula”

Comunica recebe Professor Ms. Júlio Murilo Trevas, que fala sobre os projetos de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura que desenvolve na universidade

Por Vanessa Pagno (Química/ UFFS)

Arquivo pessoal
Professor Júlio Trevas, durante apresentação do grupo Intervalo Musical.

Nesta edição, o Comunica recebeu o professor Ms. Júlio Murilo Trevas, docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza – Paraná. Mais conhecido como Trevas, é coordenador e/ou colaborador de vários projetos da universidade, ligados ao Ensino, à Pesquisa, à Extensão e à Cultura. Em conversa com o Comunica, o professor esclareceu algumas questões referentes a estes projetos e atividades que desenvolve na universidade.

Comunica: Há quanto tempo você atua na UFFS?
Júlio Murilo Trevas: Na UFFS, eu fui um dos primeiros, em fevereiro de 2010, eu e o Antônio Miskyu fomos os primeiros a chegar.

Comunica: Onde atuava antes da UFFS?
Júlio Murilo Trevas: Atuei 10 anos na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), era também professor lá, concursado, e estava alocado no Departamento de Química, porque lá é uma universidade que tem estrutura de Departamento.

Comunica: Onde fez sua graduação e mestrado?
Júlio Murilo Trevas: Fiz minha graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em casa. Meu mestrado fiz na Unicamp, em Campinas, comecei lá também meu doutorado, na área de Química, mas não terminei.

Comunica: Em quais áreas você atua aqui na UFFS?
Júlio Murilo Trevas: Aqui na universidade, de certa forma, carrego um pouco da experiência adquirida nos 10 anos anteriores. Nas disciplinas de Química, de um modo geral, então: Química Geral; Físico-Química; Quântica. Posso também, em caso de necessidade, dar apoio numa aula de Analítica, numa Orgânica, pois já ministrei este componente. Aqui, já atuei em disciplinas de Informática, Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). No curso de Ciências, trabalhei com Necessidades Educacionais Específicas, Educação e Diversidade e Astronomia também, mas, o foco principal, são as disciplinas de Química. Auxilio hoje nos estágios. Nas linhas de Pesquisa hoje foco mais na Educação, principalmente no Ensino de Ciências.

Comunica: Porque você escolheu a UFFS? Quais eram suas expectativas quanto à universidade?
Júlio Murilo Trevas: Bom, eu estava na Unicentro, e já estava um pouco incomodado com o curso de bacharelado, principalmente onde a licenciatura não é valorizada, e quando vi a proposta da UFFS, uma universidade que, a princípio, buscaria romper com uma série de questões que não só me incomodavam, mas à outras pessoas, eu me interessei bastante! A perspectiva da universidade de valorizar bastante a extensão, isso me chamou muita atenção e, em especial, o curso de Licenciatura em Ciências. Então, na verdade, o que me trouxe para Realeza foi o curso de Ciências, porque pela vaga de Química, eu poderia trabalhar em qualquer um dos Campi. No entanto, o que realmente me interessava era o curso de Ciências, porque, há muito tempo, eu buscava uma proposta em que não houvesse uma fragmentação entre as áreas.

Comunica: No momento em que o curso de Ciências foi fragmentado, suas expectativas quanto à universidade mudaram?
Júlio Murilo Trevas: Não, eu continuo com as expectativas, principalmente porque eu vejo aqui (isso eu não vi em outro local) que nós conseguimos congregar um grupo de professores que é realmente preocupado com a educação, e que está conseguindo trabalhar de forma muito interdisciplinar. Isso tem me animado bastante, então, eu vejo sim ainda perspectiva de que a gente consiga fazer um trabalho que venha a ser, inclusive, referência, em termos de não eliminar, mas, pelo menos, minimizar essas barreiras que acabam se impondo entre as áreas, da falta de diálogo entre as áreas, sendo que, na verdade, não tem como a gente fazer um trabalho sem que haja interação, um diálogo, um trabalho cooperativo, então, a perspectiva, ainda assim, me mantem muito animado. Eu vim para cá pelo projeto da universidade, enquanto eu tiver certeza de desenvolvermos um projeto realmente diferenciado, e que a gente consiga caminhar para minimizar essas barreiras entre áreas, que a gente vá consolidando um grupo pensando em educação, não penso em sair da universidade.

Comunica: Quais projetos de extensão já desenvolveu e quais ainda desenvolve na universidade?
Júlio Murilo Trevas: O primeiro projeto foi o de “atividades demonstrativas e interativas como apoio à licenciatura e Educação Básica”, era algo que eu vinha já desenvolvendo na Unicentro e, naturalmente, como vim de lá, trouxe um pouco dessa minha bagagem. Quando começamos, então, a universidade ainda não tinha toda essa estrutura e foi uma forma de começar, inclusive, a mostrar para os estudantes da licenciatura as perspectivas de se desenvolver atividades que não fossem tão dependentes de espaço físico especializado como um laboratório. Fico feliz porque hoje vejo vários professores que, de uma forma ou de outra, por projetos como o PIBID, também vêm desenvolvendo esse trabalho. Depois desse projeto, surgiu o “projeto de extensão de capoeira”, a princípio foi com o professor Emerson Martins e agora eu estou coordenando, o Emerson continua, mas como colaborador. A ideia desse projeto não é trabalhar a capoeira de forma esportiva, mas sim no aspecto cultural, porque a capoeira é patrimônio cultural e material, está registrada no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Então, é importante para essa região, Realeza, particularmente, que a gente consiga introduzir um elemento cultural e cultural do Brasil, para que as pessoas conheçam, para que crianças e adultos tenham a oportunidade de se envolver com a atividade, porque a capoeira é riquíssima, do ponto de vista de trabalhar não só o aspecto da saúde, mas também nutricidade, música, dança, (…), então, é algo muito completo, muito especial, conseguir integrar diferentes aspectos numa mesma atividade.
Temos também o PROPEIF, que é o “Escola intercultural da fronteira”. Eu fui convidado a participar deste projeto pela professora Ms. Ana Carolina Teixeira Pinto, estou me envolvendo bastante, estou muito empolgado com essa oportunidade de trabalhar não só com as escolas da fronteira, mas também com os professores da Argentina, tem sido uma experiência fantástica, porque o contato com uma outra cultura, outra língua, outra estrutura educativa, tem sido algo muito enriquecedor. Temos também o “intervalo musical”, que já vejo como hobby. É um projeto, então, obviamente, temos os bolsistas, os voluntários, temos que cumprir carga horária, questão de relatórios, mas este projeto é para se divertir, fazer algo que a gente gosta, onde a gente relaxa, descontrai, trazendo também cultura para a comunidade acadêmica e externa.
Sou também colaborador do “PIBID subprojeto de Química”. Também estou colaborando no grupo de “Pesquisa na formação de professores”. Ingressei, recentemente, num projeto interinstitucional, que busca desenvolver pesquisas na área de biotecnologia para substituição no uso de biocidas para agentes naturais, mas a minha função neste projeto vai ser desenvolver material didático voltado para a educação.

Comunica: Quais atividades são desenvolvidas em cada um destes projetos? Possuem bolsistas e/ ou voluntários? Qual a importância destes projetos para estes participantes?
Júlio Murilo Trevas: Qualquer um dos projetos, seja de ensino ou de extensão, é importante para que os estudantes percebam que a sua formação superior não está e não deve estar restrita à sala de aula. A formação deve acontecer também nestes ambientes, nestas atividades extra sala de aula. Porque essas atividades vão proporcionar conteúdos que não são os conteúdos específicos, mas são conteúdos, portanto, para a formação humana, cidadã e profissional, em que componente nenhum é capaz de fornecer de forma tão sólida, por isso, para eles é importante que participem, quer seja como bolsista, quer seja como voluntário. Isso é importante, e é por isso que estamos numa universidade e não numa faculdade. Temos bolsistas e voluntários nos projetos, então: o PIBID (subprojeto Química) tem bolsistas e tem voluntários; o intervalo musical tem bolsistas, não tem voluntários; o projeto de capoeira tem bolsistas e, por enquanto, não tem voluntários; e o PROPEIF é um programa que funciona a partir de verba de uma ação chamada rubrica 20RJ, por essa rubrica não pode ser, então, concedida bolsa para alunos de graduação.

Comunica: Estes projetos envolvem outras instituições ou apenas a universidade?
Júlio Murilo Trevas: Estamos iniciando uma maior interação com a comunidade, já fizemos algumas apresentações, mas vinculadas a algumas atividades da própria universidade, ou uma semana acadêmica, algum evento, mas a partir deste semestre estamos começando a ampliar. Participamos recentemente, por exemplo, do “outubro rosa”, que é um evento que a cidade promoveu. Neste caso, participamos com o grupo “acordes vocais”. Esta atividade foi realizada no dia 22 de outubro, na praça da cidade. Cantamos algumas músicas que tinham a ver mesmo com o evento que é de valorização da mulher.

Comunica: Como você vê essa interação entre docentes e discentes promovida nos projetos que você desenvolve?
Júlio Murilo Trevas: Acredito que nestes projetos nós temos, como docentes e, no caso, como educadores, a oportunidade de conseguir discutir um pouco mais e contribuir mais com a formação destes estudantes. A sala de aula é um espaço e tempo limitados, só tenho naquele espaço aquele intervalo de tempo para interagir com os estudantes e, aí, não posso ampliar para uma conversa, uma aproximação, dar aos estudantes a oportunidade de expor ideias, de tirar dúvidas que não sejam, necessariamente, daquele componente. Nos projetos, conseguimos, então, complementar esses momentos de interação e contribuir bastante com a formação destes estudantes. O ideal é que todos os estudantes tivessem a oportunidade de, durante um curso de graduação, participar destes projetos, mas, infelizmente, isso não é possível, pois muitos não têm condições de abdicar do trabalho para realizar uma atividade e sobreviver com uma bolsa. Até porque a bolsa é provisória, às vezes têm família, então, não podem arriscar sua provisoriedade, sem perspectiva de, depois, poder retornar a algo mais concreto, e essa é a realidade que temos aqui.

Comunica: Para você, como estes projetos influenciam para seu crescimento pessoal e profissional, como professor e orientador?
Júlio Murilo Trevas: Toda vez que você interage com alguém, você aprende alguma coisa, esse alguém te deixa uma marca, então, tendo um projeto, que desenvolve, colabora e está interagindo com outros docentes e com estudantes, você começa a ampliar muito mais sua visão de mundo, sua percepção da própria humanidade, no sentido de conseguir enxergar as pessoas melhor, de ser mais paciente, tolerante, mais compreensivo. Do lado profissional, os projetos sempre impõem desafios e a gente se vê em situações de resolver problemas que antes não tínhamos imaginado enfrentar, aprendemos algo novo, então, em termos profissionais e pessoais, o crescimento é enorme, tenho até dúvidas se quem cresce mais é o docente ou se é o estudante.


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