quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sobre uma gata

Por Yana Cristina de Barba (Nutrição/UFFS)


Charge Por: Daniel Tomaiz de Campos (Química/UFFS)

Contaram-me, cedo da manhã, que naquela noite ninguém havia dormido, a não ser eu. A gata, que até então era tida como o bebê da casa, estava no seu primeiro cio. Foi só a primavera chegar que a mocinha com seus hormônios transbordando passou a noite fora, à luz da lua, e nós, ao som da cacofonia de miados.

Como era de se esperar, todos da casa ficaram preocupados. O que faríamos com os filhotes caso a gata realmente tivesse algum? Mas, principalmente, o que faríamos se ela não conseguisse concebê-los, pois ela era tão pequena, uma “criança”. E, assim, passamos o almoço discutindo os pró e contras do caso, os riscos, mas também a vontade de deixá-la ser o que realmente é, uma gata que possui um instinto essencial - além o de dominar o mundo - que é ser mãe.

E nisso relembramos como foram os primeiros dias de vida, ou quase morte, da nossa gata. Encontrada abandonada na rua, ela estava cercada por cachorros, como uma mola sendo jogada no chão, persistindo em voltar à posição original. Naquele momento ela se portava como uma estátua em miniatura, com seus olhinhos corajosamente fechados, a espera do próximo golpe. Assim ela foi encontrada e assim ela foi resgatada. E agora, depois de aproximadamente 5 meses, ela é outra gata, ou melhor, ela realmente parece uma gata. Ainda com as orelhinhas esfoladas e vermelhas, mas com visíveis avanços no crescimento dos seus pelos brancos.

Enquanto conversávamos, a gata continuava suas acrobacias pela casa, e volta e meia voltava suas orelhas para nós, como se entendesse cada palavra e estivesse determinada a se opor a nossa decisão, porque, afinal de contas, a decisão não deveria ser nossa, mas dela. Entretanto, quando penso em seu futuro, imagino que certamente os gatinhos, caso ela venha a ter algum, terão de ser doados, e doar sem consciência é contribuir para o abandono de animais, nesse caso, de gatos. E como saber se eles não terão o mesmo destino inicial de sua mãe, antes de nós a termos resgatado? Como sermos capaz de permitir que a possibilidade de eles serem largados nas ruas venha a acontecer?

O abandono não só de gatos, mas de cachorros também, é um fato absurdo, mas presente na nossa vida. Por exemplo, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza é lar de muitos cachorros abandonados, mesmo Realeza sendo uma cidade pequena. Se existem pessoas que conseguem descartar o companheiro que lhe deu os melhores momentos, que é o que um animal de estimação costuma nos fazer, como chamá-las de seres humanos? Se for assim, os gatos (cachorros e animais de estimação em geral) bem que poderiam mesmo dominar o mundo, e sei que nossa gata estaria de acordo, pois afinal de contas, o instinto materno dela irá procurar por um mundo melhor e mais seguro para seus filhotes que possivelmente estão por vir...

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